" O maldoso vive debaixo do véu. O descaramento é sempre sua ambição. É o tântalo do cinismo. Somente em sua solidão pode ser franco consigo mesmo; que volúpia é sentir-se sinceramente abominável ! Todos os êxtases possíveis do inferno tem o maldoso nesses momentos de regozijo interno ao ver os resultados hediondos de sua maldade; são-lhes pagos todos os atrasos da dissimilação; a hipocrisia é um adiantamento; Satanás embolsou-o.
Tem prazer em dizer ao gênero humano: és idiota!
Só ele é espectador da sua glória. Mas ao mesmo tempo quer um pedestal. Que mais belo triunfo do que esse de ficar no centro de convergência para a atenção geral?
Obrigar o olhar alheio é, para ele, uma das formas de supremacia. Os que têm o mal por ideal acham no opróbrio uma auréola. Domina-se aí. Olha-se de cima de alguma coisa. Mostra-se com soberania. Um poste, á vista de todo o universo, tem alguma analogia com o trono.
Estar exposto, é ser contemplado. O regente Jorge matando lentamente Napoleão, Nero incendiando Roma, deviam sentir um pouco daquela volúpia sonhada por todo Maldoso. A imensidade do desprezo.
Toda a infâmia é consequente. O mel é fel. O hipócrita, sendo perverso completo, tem em si os dois pólos da perversidade. De um lado é padre, do outro cortesão. O seu sexo de demônio é duplo. O hipócrita é o horrível hermafrodita do mal. Fecunda-se a si próprio, gera-se, transmuta-se. Queres vê-lo formoso? Olha-o; queres vê-lo horrível ? Vira-o. "
Victor Hugo
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